quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Ecos do Cd... Parte 1

Jornal Diário do Pará - Coluna: Feira do Som
Por: Edgar Augusto – Jornalista e Crítico de Música
Agosto de 2006

QUADERNA E OS TRAÇOS CULTURAIS NORDESTINOS NA MÚSICA PARAENSE

Quem certo dia escutou o Quaderna a cantar Patrulha da Cidade, sucesso de Ary Lobo nos anos 50, num programa ao vivo pela Rádio Cultura do Pará, poderia até pensar que Allan Carvalho (músico e compositor com atuação em grupos para-folclóricos da cidade), Camilo Delduque (conhecido engenheiro/arquiteto, contista e poeta) e Cincinato Jr. (pesquisador da UFPA e ex-integrante dos grupos Porta de Casa e Arraial do Pavulagem) tivessem formado o trio apenas para tirar sarro com a cara dos outros, para se divertir. Contudo, muito pelo contrário, o Quaderna foi criado visando desenvolver um trabalho de pesquisa sobre a presença de traços culturais nordestinos na música da Amazônia, sobretudo a paraense. E o fez com seriedade e talento. O disco que acaba de lançar, dentro de tal projeto, teve confecção durante um ano e meio – o suficiente para o grupo criar composições próprias, dentro da temática a que se propôs, e ainda relembrar êxitos radiofônicos inseridos em seu contexto (Patrulha Da Cidade, no caso, caiu como uma luva). Sob o patrocínio da TIM e da Bolsa de Pesquisa do IAP, através de Edital Público, o Quaderna não apenas exibiu xotes, baiões e cirandas concebidos por ele mesmo.Também incluiu no lançamento um luxuoso encarte onde, mostrando a evolução da imigração nordestina em nossa região, na primeira metade do século passado, encontrou a motivação para a proposta de dividir o repertório setorialmente através de natureza, religiosidade, amor e luta. Trouxe então peças valiosas como Canto Encantado (Cincinato e Ronaldo Silva), Romeira (Allan Carvalho, Cincinato e Mauro Connor) e Filho Preto (Allan Carvalho e Aninha Moraes). Suas melodias, redondas e facilmente assimiláveis, ganharam as presenças instrumentais dos talentosos irmãos Meirelles (Baboo, Alcyr e Beto) ao lado do experiente José Luis Maneschy apoiadas, no setor vocal, por Daniel Araújo — que arrumou a casa a capricho. O trabalho, no final das contas, correspondeu. Soou um pouco assim como o Quinteto Violado de antigamente, impondo sua riqueza de arranjos e canções. Um detalhe sensível também não passou despercebido no dito cujo: a poesia de Delduque, em especial na faixa de número sete, Fato, onde ele diz “Se de amor e só em amor te vejo, sou louco absoluto/bêbado, órfão do teu próximo beijo/se de amor e só de amor te acho, atinjo a hora, aceito a espera/se só de amor e em mim te vejo/sou lúcido fato, anjo órfão do desejo, pedra úmida de teu primeiro beijo”. O Quaderna realmente matou a pau.

SOFISTICAÇÃO DO QUADERNA - Um elegante saco de papel de presente embala o primeiro CD do trio Quaderna. Dêem uma olhada lá na loja do Ná Figueredo.

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