sábado, 1 de novembro de 2008

Mais Vavá da Matinha!

Segue um texto publicado num blog que tinha até 2006. Mais uma louvada ao Vavá da Matinha. Vale deixar o registro...

Abraços,
Allan Carvalho - Quaderna

O Vavá que conheci...

Tive a oportunidade de conhecer a obra do Vavá logo moleque. Não dei tanta bola, lá pelos 80, pois minha cabeça ainda era colonizada pelos gêneros de fora do país, que aqui também vinham pelos grupos e artistas imitadores desta música enlatada. Ao mesmo tempo que valorizava esses estilos da grande indústria, sem perceber, eu era influenciado pelo meu pai – Seu Sales –, pois era quem escutava e falava, vez ou outra, do Vavá. Na verdade, com todos os outros guardiões de nossa raiz. O processo de olhar pra dentro do Brasil veio de forma bem natural, tal como a musicalidade fluía em casa. Depois que me toquei, fui (re)olhar pra obra do Oswaldo Oliveira, como o Vavá da Matinha é reconhecido fora do Estado. Aí o negócio ficou bom!
Antes de mergulhar nos boleros, merengues, carimbós e outros temperos do Oswaldo, fiquei tarado na genialidade do seu conterrâneo, o Ary Lobo (que irei publicar algo mais na frente), de semelhante sotaque musical. Mas, foi através do próprio Ary que tive a percepção de remexer com o Vavá. Daí pra frente fui, cada vez mais, tendo contato com discos dele, fora as histórias interessantes e irreverentes que o envolviam. Tudo me deixava ansioso, pois, um pouco divergente do Ary, o Vavá sempre mexeu com o seu “paraensismo”, de forma bem colorida. Mais um convite a quem é, como eu, um pouco bairrista.
Esse encantamento broxou ligeiramente quando tive o desprazer de ouvir um CD do Oswaldo Oliveira feito pela FUNTELPA, há uns 6 ou 7 anos. Caramba, o som do teclado imperou neste trabalho. Nada contra o instrumento, mas o fato dele subtrair toda a levada dos metais que sempre acompanhavam a história do Vavá. Bem, de qualquer modo, valeu o fato de ter ele de novo badalado. O lançamento deste CD foi super prestigiado, inclusive no show que aconteceu no Teatro Gasômetro.
“A fartura é a véspera do aperreio”. Essa frase (do popular) foi certeira no Vavá. Após esse auê, ele sumiu. Pouco se ouviu ou se fez por ele. Isso é comum para os artistas populares em idade avançada. Vez ou outra eu via o nome dele pelos jornais ou pela boca dos artistas da terra. Só que aí, em 2006, o Vavá voltou bem. Não com aquele auê que comentei a pouco, mas com uma língua (e que língua – uns 15cm pra fora da boca! Te mete!) mais que afiada. Novamente, a voz dele soou pelas ondas da FUNTELPA.
Aí tive a grande honra de conhecê-lo(deixei uma entrevista publica aqui). Na oportunidade homenageávamos (o Quaderna) o Ary Lobo, em um especial que fizemos no estúdio (Programa Terruá Pará) e depois no Píer das 11 Janelas (Festival Cultura de Verão). A direção sugeriu o nome dele, eu agradeci! Lá estava ele – barrigudo, sacana, ritmado e totalmente artista. Muito papo, muitas histórias! Após estes shows, ele ainda foi convidado a fazer um show só dele. Legal foi ter dele o convite pra participar de seu programa. Depois nos esbarramos lá por Ourém, onde ele era a principal atração da noite, ao final do tradicional Festival da Canção Ouremense. Ele pintou com um baita teclado, sempre vazando nas harmonias. Mas tava perdoado, pois eu estava felizaco em está por perto do Vavá(coisa de fã).
Esse pouco todo, valeu! Conheci um artista de verdade. Tomara que o cabra siga ainda vivo na memória e presente nos eventos e homenagens. Eu, por aqui, tô trazendo seu nome neste blog.
Confiram!
Conheçam ou relembrem desses discos:
Osvaldo Oliveira - Secretária do Diabo (1967)
O cantor e compositor paraense Osvaldo Oliveira, o Vavá da Matinha, iniciou sua carreira no final dos anos 50, nos programas de auditório da Rádio Clube. Osvaldo fez sucesso com músicas com balanço semelhante às de Jackson do Pandeiro, porém criadas sob a influência do norte do país. Assim, Vavá da Matinha realizava um samba distinto do baiano e do carioca. Em suas músicas estão presentes indicações de sua origem, com referências à Nossa Senhora de Nazaré, o tacacá e o Ver-o-Peso.Algumas de suas músicas de maior sucesso são "Pará E Bahia", "A Beleza Da Rua" e "O Canto Do Galo".
Faixas:

01. Prepara a fogueira (Osvaldo Oliveira - Dilson Doria)
02. Só vou de mulata (Gordurinha)
03. Va lá vá (Elino Julião - Dilson Dória)
04. Secretária do diabo (Osvaldo Oliveira - Reinaldo Costa)
05. Zé do Santo (Luiz Guimarães)
06. Maior tesouro da vida (Osvaldo Oliveira)
07. Côco de pandeiro (Sebastião Rodrigues - José Cardoso)
08. Coitadinha da Inês (Elias Soares - Sebastião Rodrigues)
09. É hoje que a muda fala (Rocha sobrinho - Bernardo Silva)
10. Carreiro Carreá (Assumpção Correa - Nelson Macedo)
11. Salada em familia (Florival Ferreira - Cesar Fontes)
12. Fruteito da Matinha (Osvaldo Oliveira - Fernando Silva)Dando a Letra!
A Secretária Do Diabo (versão cantada por Teca Calazans)
O diabo quando não vem Manda o secretário /Eu não vou nessa canoa Que eu não sou otário. / Eu reconheço que ela é muito boa / Mas não vou nessa canoa / Que dá confusão Quando ela passa / Provocando um desafio / Sinto logo um arrepio / No meu coração. / Não vou na onda / Nem no conto do vigário / O diabo quando não vem / Manda sempre um secretário. / O diabo quando não vem... / Quando ela chega na repartição / É aquele rebuliço / É aquela confusão / Dá um sorriso e se senta na cadeira / Mas de uma tal maneira / Que eu vou te contar / Não vou na onda / Nem no conto do vigário / O diabo quando não vem / Manda sempre um secretário.
Texto: Edson Coelho/2005

Pará sempre fez o Brasil dançar
Fenômeno da Banda Calypso tem suas raízes fincadas na década de 60, na herança de figuras como Osvaldo Oliveira
Precursor - Nas raízes do brega está a fase de ouro da música cubana e o período de afirmação do rock e do iê-iê-iê. Um dos precursores paraenses é o cantor e compositor Osvaldo Oliveira, o Vavá da Matinha, que começou cantando forró mas, com o bolero (um dos pais do brega), se tornou um dos grandes vendedores de discos do início da década de 70.Vavá debutou no forró e vive até hoje do bolero - primeiro a gravar um merengue com letra, ele se orgulha de ter batido o Rei no Norte e Nordeste em 72 e dá a bênção ao CalypsoOsvaldo Oliveira, hoje com 71 anos, vive em Castanhal e na ativa. Começou a cantar na década de 50 e tornou-se sucesso nos muitos programas de rádio em Belém. Em 1959, mudou-se para o Rio de Janeiro, com uma carta de recomendação de Edyr Proença para a rádio Tupi. No ano seguinte, gravou duas músicas numa coletânea da Continental e, com o sucesso, ganhou o próprio 78 rotações. Em 61 gravaria ainda outro “compacto” e o primeiro elepê, “Eternas lembranças do Norte”, que continha basicamente forró e no qual assinava quatro músicas. Vavá estava na nata dos forrozeiros da época, entre Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga.Trocou a Continental pela CBS, onde gravou três elepês e integrou uma famosa caravana de forró, que percorria o Brasil levando o talento de gente como Marinês, Trio Nordestino e Messias Holanda. “Nesta época fui o primeiro a gravar, no Brasil, um merengue com letra”, lembra ele, citando “A Deusa do Mercado São José”. E o melhor estava por vir: um bolero seu gravado por Abdias estourou em vários Estados e um dos diretores da CBS, Evandro Ribeiro, deu a dica: “Estás fazendo filho na mulher dos outros”. No ano seguinte, 1972, Vavá gravou “Só castigo”, disco de bolero cuja música-título foi um dos maiores sucessos do ano e lhe rendeu o maior orgulho da vida. “Num belo dia, ao chegar à CBS, olhei na parede o quadro dos maiores vendedores do ano, e vi meu nome à frente do de Roberto Carlos: eu vendera mais do que ele no Norte e no Nordeste”. Sucesso - “Só castigo” (“Aí está/Aquele amor que pertenceu à minha vida/A quem outrora eu chamava de querida...”) fez tanto sucesso que obrigou as gravadoras a investirem no novo filão, atraindo gente como Reginaldo Rossi, o primeiro grande rei do brega brasileiro. “Posso te garantir que esta música me sustenta até hoje”, diz Vavá. “Em Fortaleza, por exemplo, ela toca tanto que é como se tivesse acabado de ser lançada. Até criança de oito anos canta toda a letra. O sucesso é tanto que, contra minha vontade, penso em morar por lá a metade de cada ano, e a outra metade aqui”.Vavá ainda gravou vários discos de bolero na década de 70, em que pesava sempre seu talento de compositor, mas passou os anos 80 quase em branco, sustentado pelo público do qual seguia ídolo e que até hoje não o esqueceu. Quatorze anos atrás, mudou-se para Castanhal, para ajudar a montar uma rádio (seria o diretor artístico). Mas o amigo que o convidara morreu num acidente de automóvel, e o projeto não se concretizou, a despeito de estarem comprados os equipamentos. Em Castanhal aposentou-se como funcionário da Prefeitura, continua a registrar discos e a fazer shows, e prepara-se para gravar, ainda este ano, seu primeiro DVD. Generoso, Vavá elogia o sucesso da Calypso e diz que se sente uma espécie de João Batista dos ritmos que fazem o Brasil dançar e na defesa de um espaço para o Pará na música brasileira.

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